Refletindo sobre as múltiplas faces da natureza humana, com as suas fragilidades e as suas aterrorizadoras atitudes predatórias, estes desenhos recentes de Graça Morais (realizados em 2018) oferecem-nos, como num espelho quebrado, os múltiplos reflexos dos nossos muitos medos quotidianos: a guerra, a exclusão, a perda absoluta, a fome, a morte.
Em cada um dos trabalhos apresentados, como se em pequenos pedaços de um mundo estilhaçado, reconhecemos emoções que nos são íntimas. A voragem, a capacidade de destruir, a vontade de recusar ao outro a sua humanidade e dignidade, ou o desejo de domínio — tudo isso lá está. Mas não apenas isso. À parte o sofrimento das vítimas, também aí representadas, na sua silenciosa e derradeira resistência, na sua resiliente exigência de dignidade, desponta nestes trabalhos o teimoso caminho para a esperança. A empatia pelas vítimas, a capacidade de dar voz a quem a não tem, sente-se e ouve-se nestes trabalhos que mostram, como com uma lupa, as grandes tensões do nosso tempo, condensadas em imagens perturbadoras e tocantes.
Com um primeiro momento em 2018 no Centro de Arte Contemporânea Graça Morais, em Bragança, a exposição do MNAC apresenta, além desses, outros trabalhos recentes. Depois de Lisboa, será a vez de o Porto receber Metamorfoses da Humanidade, no Museu Nacional Soares dos Reis, de 25 de julho a 29 de setembro.
Curadoria: Jorge da Costa e Emília Ferreira
Exposição patente ao público de 22 de março a 2 de junho, no Museu Nacional de Arte Contemporânea do Chiado (Rua Capelo, 13 – Lisboa).