O tema da guerra regressou como centro de praticamente todas as atenções na segunda edição da Tertúlia “Revista do Mês”, o jornal falado do CNC, que teve lugar no CiberChiado, com Maria João Avillez (M.J.A.), João Amaral (J.A.) e Guilherme d`Oliveira Martins (G.O.M.) e os convidados especiais José Medeiros Ferreira (M.F.) e José Manuel Fernandes (J.M.F.). Maria João Avillez iniciou o animado debate com o habitual sumário dos acontecimentos do mês de Fevereiro e abriu hostilidades perguntando aos convidados sobre a importância das opiniões públicas e das manifestações contra a guerra e sobre se a Europa não está confrontada com uma crise profunda, apresentando-se dividida na questão do Iraque e incapaz de apresentar uma proposta comum. A divisão europeia começou por ser considerada por todos como um sinal negativo e José Medeiros Ferreira lançou a sua crítica à posição franco-alemã, por não contribuir para uma solução europeia a favor da paz. Por outro lado, entende que a estratégia de George W. Bush na reacção ao ataque terrorista de 11 de Setembro surge claramente fora de tempo. Afinal, a intervenção no Afeganistão aparece aos nossos olhos como uma saída em falso que agora a política norte-americana procura corrigir. Esta a grande fragilidade da posição do Presidente norte-americano, já que a opinião pública ocidental não compreende a pertinência nem a urgência de uma intervenção. A ameaça de Saddam Hussein se era tão grave deveria logo ter sido posta em causa. J.M.F. e G.O.M. recordaram, aliás, o recente artigo de Pierre Hassner no ?Le Monde?, no qual são imputadas culpas de parte a parte, na actual situação, quer ao governo norte-americano quer à política europeia. Perante a consideração de que as Nações Unidas e o Conselho de Segurança estariam postos em causa nesta crise M.F. contrapôs a necessidade de se ter de respeitar o Direito Internacional vigente e a Carta das Nações Unidas, sendo necessário encontrar soluções que contribuam para a superação do actual grave impasse. Se a posição britânica parece resultar já de um entendimento com os Estados Unidos, ainda falta saber que entendimento será (e se será) estabelecido com a França. Essa a grande incógnita do momento. E o certo é que uma segunda resolução das Nações Unidas só existirá, por definição, se não houver veto francês. J.A. e J.M.F. insistiram na crise europeia ? sobretudo no momento em que se realiza a Convenção – e M.F. veio lembrar o que vem defendendo, aliás com G.O.M., que só haverá condições para que a União Europeia tenha uma autêntica política externa, de segurança e de defesa quando houver no Parlamento Europeu um Senado com voto igualitário dos Estados. Levará a crise à reforma necessária? Ficaram muitas incógnitas no ar. A guerra parece inexorável, mas ninguém sabe como atingirá os seus objectivos e quais os seus efeitos.