A Vida dos Livros

UM LIVRO POR SEMANA

Dietrich Schwanitz escreveu em 1999 um livro significativamente intitulado “Bildung. Alles was man wissen muss”. A obra tornou-se um sucesso e foi traduzida para português sob o título “Cultura. Tudo que é preciso saber” (Dom Quixote, 2004). Para muitos dos leitores tratar-se-ia de poder obter conhecimentos essenciais de um modo rápido e fácil. Comecemos pelo título.

UM LIVRO POR SEMANA
De 21 a 27 de Novembro de 2005


Dietrich Schwanitz escreveu em 1999 um livro significativamente intitulado “Bildung. Alles was man wissen muss”. A obra tornou-se um sucesso e foi traduzida para português sob o título “Cultura. Tudo que é preciso saber” (Dom Quixote, 2004). Para muitos dos leitores tratar-se-ia de poder obter conhecimentos essenciais de um modo rápido e fácil. Comecemos pelo título. Em língua alemã a palavra usada não foi “Kultur”, mas “Bildung”, normalmente usada na acepção de “Educação”, a partir do verbo “bild”, que significa construir. A obra tem, assim, primordialmente, uma função pedagógica. Não se trata de um “almanaque de indicações usuais”, mas de um livro de referência, que remete obrigatoriamente para as leituras originais e para as fontes, sem as quais os conhecimentos serão truncados e incompletos. Para Schwanitz, “cultura” não se pode confundir com ideias vagas e superficiais. “A cultura não se alardeia, nem constitui um campo em que se compita pelos aplausos gerais” (p. 507). A preocupação fundamental do autor tem, assim, a ver com a qualidade do ensino e da aprendizagem, partindo da ideia de que há grandes problemas e um “panorama deprimente” na escola alemã. No fundo, a obra combate a ignorância e o snobismo cultural. De que se compõe o livro? De duas partes: Saber e Poder.  Quanto a Saber, temos: História Europeia; Literatura Europeia; História da Arte; História da Música; Grandes Filósofos, Ideólogos, Teorias e Representações Científicas do Mundo e Apontamentos sobre a História do Debate sobre os papéis dos Sexos. Quanto a Poder, temos: A Casa da Linguagem; O Mundo do Livro e da Escrita; Geografia Política para cosmopolitas; Inteligência, Talento e Criatividade; o que não convém saber (!) e o Saber reflexivo. Isto, além de duas cronologias – uma geral e outra cultural –, e de referências aos Livros que mudaram o mundo e aos Livros que se devem ir lendo. Antes do mais, deve dizer-se que a obra é muito marcada pela sua origem alemã. Daí que os leitores portugueses sintam que a cultura portuguesa e as culturas extra-europeias primem pela ausência. Fala-se de Portugal, é certo, mas muito pouco, e os portugueses são quase ignorados (onde estão os nossos escritores e artistas?), o que é pena e fragiliza o projecto. O livro é essencialmente feito a pensar na Europa central. Eis o sobreaviso que tem de ser dado aos leitores que se aventuram no seu contacto. O título é demasiado ambicioso e não é verdadeiro. Esse o grande senão da obra. Que diz o autor? Que “só é culto quem souber estruturar o seu próprio saber” (p. 509). Eis o ponto. E a cultura, como educação, como despertar de consciências para a liberdade e a responsabilidade, torna-se “a forma sob a qual o espírito, o corpo e a civilização se convertem em pessoa e se reflectem no espelho dos demais” (p. 515). Reflexão e comunicação completam-se. Trata-se, no fundo, de procurar compreendermo-nos melhor. Daí a necessidade de saber…   


Guilherme d’Oliveira Martins

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