REFLEXÃO DA SEMANA
De 25 a 31 de Julho de 2005
Nos primeiros dias de Setembro iremos até ao Brasil. Realizaremos mais uma viagem do ciclo “Os Portugueses ao Encontro da sua História”. Desta vez na rota do “Imperador da língua portuguesa” – o Padre António Vieira. Salvador da Baía será o fulcro de um périplo ao encontro do século XVII português. Iremos à descoberta do Brasil de sempre – com os poetas, os artistas, os escritores… Seguiremos a peugada do orador sagrado, do mobilizador de almas, do crente na dignidade. Iremos ouvi-lo, como em 13 de Junho de 1654, em S. Luís do Maranhão… “O efeito do sal é impedir a corrupção; mas quando a terra se vê tão corrupta como está a nossa, havendo tantos nela que têm ofício de sal, qual será, ou qual pode ser a causa dessa corrupção? Ou porque o sal não salga, ou porque a terra se não deixa salgar”… Era o tempo da desavença entre os jesuítas e os colonos. Enquanto os religiosos defendiam a liberdade dos índios, os colonos queriam a escravatura. Vieira não se calou. E nesse dia de Santo António foi claro, ao usar a artificiosa metáfora. “Quem olhasse nesse passo para o mar e para a terra, e visse na terra os homens tão furiosos e obstinados, e no mar os peixes tão quietos e tão devotos, que havia de dizer? Poderia cuidar que os peixes irracionais se tinham convertido em homens e os homens não em peixes, mas em feras. Aos homens deu Deus uso da razão, e não aos peixes; mas neste caso os homens tinham a razão sem o uso, e os peixes o uso sem a razão”… A determinação não foi, no entanto, suficiente, e são conhecidas as consequências, desde os tumultos de 1661 até à saída apressada dos jesuítas. Apesar da sua influência e da sua sedução, foi incapaz de impedir que contra si se virassem diversas tentativas para o calar e para o retirar da ribalta. Foi metido nos cárceres da Inquisição, sob a acusação de escrever profecias perigosas. Apesar da superação desse momento dramático, a verdade é que continuou ressentido pela ingratidão, do rei e dos influentes. Em Roma, porém, regressou à glória e ao reconhecimento. Tornou-se confessor da Rainha Cristina da Suécia e foi absolvido das acusações. E regressou ao seu Brasil – à Quinta do Tanque, perto da Baía. Mas houve, de novo, complicações, acusações absurdas, a propósito de um caso de polícia. É o tempo da revisão da obra fantástica. Da ordenação dos Sermões. Da afirmação do Império da língua. Vieira está bem presente e vivo. E não esqueceremos Jorge Amado, Guimarães Rosa, D. Hélder Câmara, Carlos Drummond, Murilo Mendes… E Manuel Bandeira de “Recife” invoca a memória do que já não volta – “Não a Veneza americana / Não a Maurisstad dos Armadores da Índias Orientais / Não o Recife dos Mascates (…) Rua da União… / A casa de meu avô… Nunca pensei que acabasse! / Tudo parecia impregnado de eternidade (…) / Recife morto Recife bom Recife brasileiro como a casa de meu avô”.