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PAUL RICOEUR (1913-2005)

Faleceu um dos maiores filósofos europeus do século XX.

PAUL RICOEUR (1913-2005)


Um dos maiores filósofos europeus do século XX acaba de morrer (20 de Maio de 2005) na sua casa de Chatenay-Malabry. Por determinação própria, o funeral foi estritamente privado, longe do grande público. O que nos deixa é uma obra muito rica e densa, e uma atenção singularíssima à modernidade, que permitirá, depois da sua morte, manter actual, por muitos anos, a perenidade dos seus textos – porque foi um interrogador do tempo presente, com instrumentos intelectuais cujas potencialidades estão longe de se esgotar. “Metáfora viva” e “Paradoxo político” são referências quer no campo filosófico, em especial no pensamento hermenêutico, quer no campo do pensamento político, no auge da contradição histórica entre as aspirações sociais dos anos cinquenta e a exigência das liberdades individuais, que o colectivismo recusava. Husserl e Karl Jaspers influenciaram decisivamente o seu pensamento e o seu método. A coerência entre o pensamento e o compromisso, na linha de Mounier e de Landsberg, aprofundou-se a partir da experiência da prisão durante a guerra e das responsabilidades sentidas no pós-guerra. Gabriel Marcel foi um interlocutor essencial para Paul Ricoeur, pondo em diálogo a existência e a acção, o percurso individual da pessoa e o compromisso social… O tema da responsabilidade não pode ser alheio ao do conhecimento e da compreensão. Personalidades como o social-democrata André Philip influenciam o percurso cívico. Merleau-Ponty, Emmanuel Lévinas, Gadamer, Dumézil, Eliade, Rawls, Walzer mobilizaram a sua atenção e a sua extraordinária capacidade para dialogar e aprofundar as reflexões sobre ideias. Membro de uma Igreja reformada tornou-se uma figura essencial no diálogo ecuménico – respeitadíssimo pelas várias confissões religiosas, pela seriedade da sua atitude intelectual. Desde 1956 viveu na comunidade fundada por Mounier, nos arredores de Paris, onde agora morreu (próximo do Vale de Lobos de Chateaubriand) partilhando com Paulette Mounier, Jean-Marie Domenach, Henri Marrou, Paul Fraisse e tantos outros uma atitude centrada da dignidade da pessoa humana. Encontramos em Ricoeur uma “ontologia do agir” que o leva a afirmar: «Sous la pression du négatif, des expériences en négatif, nous avons à reconquérir une notion de l’être qui soit acte plutôt que forme, affirmation vivante et puissante d’exister». Depois de várias incompreensões, no auge dos acontecimentos de 1968, Ricoeur partiu para os Estados Unidos e tornou-se uma ponte entre a cultura filosófica dos dois lados do Atlântico, com resultados positivos para todos. Era um sábio, com uma inteligência desperta para ouvir os outros e para descobrir novos caminhos. Eis por que nos deixou um vazio impossível de preencher.



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