Herberto Helder (1930-2015), figura central da lírica da segunda metade do século XX, afirmou-se desde cedo como um cultor da aproximação à linguagem coloquial e de uma certa despedida da modernidade, assumindo um percurso autónomo, afastado de escolas e compromissos culturais. Os Passos em Volta (1963) é uma deambulação romanesca, que revela uma atitude singularíssima na procura da vida, como realidade contraditória. Já Photomaton & Vox (1979) reúne ensaios e poemas, sentindo-se no escritor a obstinação na busca da palavra. Poesia – O Amor em Visita (1958), A Colher na Boca (1961) e Poemacto (1961) lançam uma obra que define uma outra modernidade. E assim, ao longo dos anos, as sucessivas edições de Poesia Toda (1953-1980) vão corresponder a um esforço inconfundível de depuração poética e de busca dos ritmos, das cadências que atribuem ao poeta um lugar único na língua portuguesa. Esse caminho muito rico, vindo do surrealismo e chegado à emancipação, será recordado a 4 de novembro, a partir das 15h00, num diálogo apaixonante com António Ramos Rosa (1924-2013), poeta-pensador, teórico do fenómeno poético, tradutor, figura de referência no surgimento da Poesia 61 e voz fecundíssima, desde o O Dia Claro (1958) e de Viagem através de uma Nebulosa (1960). Entendida como aventura espiritual ou espaço de liberdade, a produção poética do autor de Boca Incompleta (1977) assume, no erotismo mais extremo, ou na mais «preciosa fragilidade», uma certa dissolução do Eu na unidade cósmica e na celebração da terra e da música das coisas. O fulgor metafórico do criador de O Teu Rosto (1994) em torno de temáticas – que vão do desejo à morte –, é amiúde genesíaco e as palavras constituem uma espécie de «fábula do mundo» de um intelectual que foi um dos diretores de revistas iniciadas na década de 50 a exemplo de Árvore, Cassiopeia e Cadernos do Meio-Dia. O adensamento ensaístico de ambos os poetas, Herberto Helder e António Ramos Rosa, ressalta no número 196 (Set-Dez) da Colóquio/Letras, da Fundação Calouste Gulbenkian, em que ambas vozes se (re)encontram, nomeadamente por meio de correspondência inédita trocada entre os autores. O lançamento da revista, que conta com a colaboração de Rui Chafes, completará a homenagem.
Guilherme d’Oliveira Martins
DIA ANTÓNIO RAMOS ROSA E HERBERTO HELDER
e
LANÇAMENTO DA REVISTA COLÓQUIO / LETRAS
Coordenação: Ana Marques Gastão
:: Programa
15h00 – Abertura
Elísio Summavielle
Guilherme d’Oliveira Martins
Nuno Júdice
Ana Marques Gastão
15h30 – A pedra e o fogo
Silvina Rodrigues Lopes
Rosa Maria Martelo
Ana Paula Coutinho
16h15 – Dança primeira e o ecrã-tela
Gustavo Rubim
Joana Matos Frias
16h45 – Intervalo
17h15 – Epifanias e o corpo último
Luís Quintais
Pedro Eiras
Rui Chafes
Gravação áudio do poema Animal Olhar por António Ramos Rosa
Gravação áudio do poema Minha cabeça estremece por Herberto Helder acompanhado por Rodrigo Leão em Os Poetas.
4 de novembro * 15h00 * Sala Sophia de Mello Breyner Andresen
M/6 | Entrada Livre.
Produção | CCB
Em colaboração com o Centro Nacional de Cultura
Ciclo Literatura e Humanidades / Dias Literários CCB