Dir-se-ia que Amor e Amigo aqui confluem. Como Caetano Veloso disse estamos perante a língua viva. E assim Luísa Sobral no seu percurso americano e europeu redescobre a nossa lírica bem como a língua além-fronteiras.
Leia-se, repita-se:
Se um dia alguém perguntar por mim
Diz que vivi para te amar
Antes de ti, só existi
Cansado e sem nada para dar
Meu bem, ouve as minhas preces
Peço que regresses, que me voltes a querer
Eu sei que não se ama sozinho
Talvez devagarinho possas voltar a aprender
Meu bem, ouve as minhas preces
Peço que regresses, que me voltes a querer
Eu sei que não se ama sozinho
Talvez devagarinho possas voltar a aprender
Se o teu coração não quiser ceder
Não sentir paixão, não quiser sofrer
Sem fazer planos do que virá depois
O meu coração pode amar pelos dois
A cultura é isto mesmo. Um movimento permanente de recriação e a experiência de Luísa Sobral permite um curiosíssimo reencontro com as raízes – que devemos ver nas trovas mais antigas (“Ondas do mar levado, / Se vistes o meu amado? / E aí Deus, se verrá cedo!”) até ao Cancioneiro de Garcia de Resende…
Do mesmo passo, a interpretação de Salvador reencontra a experiência dos velhos trovadores, no sentimento, na emoção e na aparente incerteza.
O que acontece em “Amar pelos Dois” não é um acaso – é um novo caminho da língua portuguesa de partida e de chegada, de encontro e reencontro!
A cultura popular e a cultura erudita casam-se, a identidade e o cosmopolitismo fundem-se!