"John Rawls (1921-2002) morreu. É uma das grandes referências
da filosofia política do século XX e em especial de um pensamento
moderno preocupado em ligar os objectivos da liberdade e da igualdade,
em nome do respeito da dignidade humana. A sua obra mais conhecida e divulgada,
«Uma Teoria da Justiça», e o conceito que desenvolveu,
da “justiça como equidade” obrigam-nos a pensar o fenómeno
político e social à luz do pluralismo, da exigência
de uma repartição equitativa dos recursos e da ligação
necessária de um conceito aberto, universalista e complexo de contrato
social com a preservação da liberdade, da autonomia individual
e da Justiça – na boa tradição de Kant.
Foi um homem justo e sábio,
como todos têm reconhecido, empenhado em fazer do domínio
de si um factor de emancipação e de criatividade. Foi
uma personalidade fascinante e um filósofo exemplar, sempre disponível
para repensar as suas ideias perante as críticas de outros e
o diálogo das diferenças. Por isso, trinta anos depois
da publicação da sua obra fundamental podemos entender
as virtualidades do seu pensamento lendo tudo quanto escreveu. E se
virmos toda a extensa complexa produção intelectual de
que foi autor, verificamos que procurou sempre esclarecer, completar
e enriquecer a sua filosofia – desvendando o que estava para além
do “véu da ignorância” e procurando que o conhecimento
fosse um factor de liberdade e de justiça. Pensamento e acção,
conhecimento e compreensão, equilíbrio e justiça,
estiveram sempre presentes na sua reflexão precursora e riquíssima.
Continuará, por isso, a ser uma leitura indispensável
para a compreensão do mundo que nos cerca e da humanidade que
constituímos."
Guilherme d`Oliveira
Martins
Presidente do Centro Nacional de Cultura