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Lisboa de Fernando Pessoa

ROTEIROS CNC / DIÁRIO ECONÓMICO


LISBOA DE FERNANDO PESSOA


Um dos mais aclamados autores da cena poética portuguesa, Fernando Pessoa nasce em 1888, no Largo de São Carlos, no nº4, 4ºesq.. Se o poeta é de facto marco da cultura portuguesa, em muito foi influenciado pela cidade onde viveu e veio a morrer. Lisboa e os seus pormenores aparecem reflectidos na sua vasta obra quer no campo da poesia, quer na prosa, e, é com base nesses textos, que este roteiro nasce. Conheça assim com mais pormenor alguns aspectos citadinos, ainda existentes, que fizeram parte do quotidiano do poeta. O propósito é experimentar viver Pessoa, por um dia que seja, ao passear pelo Chiado, pela Rua dos Douradores, pela Praça da Figueira, ou ainda, ao visitar as casas que habitou, a última das quais transformada em Casa Museu.


“Ó sino da minha aldeia/Dolente na tarde calma/Cada tua badalada/Soa dentro da minha alma.”, escreveu o poeta, inspirado pelo campanário da Basílica dos Mártires que avistava do prédio onde morava no largo de São Carlos.


Um dos percursos habituais do poeta, era feito entre esta casa e o Largo do Chiado, rumo ao local de encontro de poetas e pensadores portugueses, no café sobejamente conhecido dos lisboetas, “A Brasileira”. Teria o poeta como destino este estabelecimento quando refere “(…) Quando passo, sempre errante “, fica a interrogação.


Fernando Pessoa, fortemente marcado pela cidade, tem também uma visão algo crítica sobre ela, nomeadamente sobre a rigidez das praças pombalinas. No texto “Praça da Figueira de Manhã”, escreve: “(…) Há tanta coisa mais interessante/Que aquêle lugar lógico e plebeu”, é apenas uma provocação, que tem o condão de podermos perspectivar esta área de Lisboa sobre outro ponto de vista, contrastando-a com os lados das colinas, de características tão díspares.


Das diversas casas que o poeta habitou, a última foi transformada em Casa Museu, onde entre diversas actividades se estuda o espólio deixado por Fernando Pessoa, uma oportunidade de conhecer o lado mais íntimo do poeta.


Largo de São Carlos
Deve o seu nome ao Teatro de São Carlos, edificação neoclássica projectada pelo arq. José da Costa e Silva. Pioneira na expressão lúdica da cidade, a sua construção relâmpago (demorou cerca de seis meses) deve-se, sobretudo, ao grande impulso dado pelo Intendente de Pina Manique. A fachada não apresenta grandes requintes decorativos, pelo contrário, é sóbria e inspirada no teatro della Scalla de Milão.


Café “A Brasileira”
Situado em local nobre da cidade, o projecto da sua construção deve-se ao arq. Norte Júnior. Na fachada abrem-se três portas envidraçadas encimadas por uma escultura em estuque, envolvida por motivos vegetalistas, representando figura masculina bebendo café. No interior, do lado direito desenvolve-se o balcão que percorre todo o corredor e, do lado oposto, estão as mesas de tampo de mármore sustentado por estruturas de ferro trabalhado de forma curvilínea.
Encontram-se actualmente diversas obras de pintores como Manuel Baptista, Hogan, Azevedo, Vespeira, Rodrigo, Eduardo Nery, João Vieira, Pablo e Noronha da Costa, que substituíram outros de uma outra geração entre os quais se distinguiram Almada Negreiros, Eduardo Viana, Bernardo Marques e Stuart Carvalhais.
Fazendo-nos companhia na esplanada do café, encontra-se uma figura em bronze representando o poeta, sentado à mesa bebendo café, da autoria de Lagoa Henriques.


Basílica de Nossa Senhora dos Mártires
Corresponde à igreja que Fernando Pessoa avistava do prédio no Largo de São Carlos, onde residiu, e que do alto do campanário fazia soar o sino. A edificação data do ano de 1147, na altura erguida no alto da colina de São Francisco. Destruída pelo Terramoto de 1755, foi sob a responsabilidade do arq. Reinaldo Manuel dos Santos, que em 1769 se iniciou a construção da actual igreja, em pleno Chiado. Embora tenha sido benzida em 1774, somente abriria ao público em 1783 (ou 1786).


Martinho da Arcada
Com projecto de autor desconhecido, o Café-Restaurante Martinho da Arcada, outrora também conhecido como Café da Neve, existe desde 1778. De planta rectangular, mostra 4 portas, enquadradas por 4 pilastras duplas, emolduradas em cantaria e encimadas por entablamento. A zona do café é revestida a azulejos brancos, podendo ainda observar-se em azulejos, junto à entrada do lado esquerdo, a figura de Fernando Pessoa de autoria do pintor Angelo de Sousa. Foi neste estabelecimento que Pessoa escreveu parte dos seus poemas e, entre eles, os que fazem parte do único livro publicado em vida – Mensagem.


Casa Museu Fernando Pessoa
Localizada na última morada do poeta, na Rua Coelho da Rocha,16 (Campo de Ourique), foi inaugurada a 30 de Novembro de 1993. A casa foi alterada a pedido da Câmara, com projecto de autoria da arqª. italiana Daniela Ermano. Estão em exposição permanente várias obras de pintores consagrados como José de Almada Negreiros (Retrato de Fernando Pessoa no Café Irmãos Unidos), Júlio Pomar, Bartolomeu dos Santos, António Costa e Rodriguez Castañé.
Regularmente o quarto do poeta é recriado em termos cénicos, por artistas plásticos contemporâneos que apresentam obras de Pessoa ou dos seus heterónimos. As salas da Casa Fernando Pessoa têm exposições versando sempre os poetas, as suas vidas e obras.

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