ROTEIROS CNC / DIÁRIO ECONÓMICO
A ARTE NOVA NO PORTO
De volta ao Porto, o Centro Nacional de Cultura convida a uma visita pela Arte Nova desta cidade. Na transição do séc XIX e nas primeiras décadas de novecentos, o Porto é caracterizado por muitos espaços urbanos de requinte, elegância e aspecto cosmopolita. Entre as numerosas construções são de destacar ilustres exemplos de Arte Nova nos edifícios comerciais, nos cafés e nas habitações. Este roteiro pretende assim, dar a conhecer uma arte que articulou de forma brilhante diversos materiais como o ferro e o vidro, contribuindo significativamente para embelezamento da cidade.
Café Majestic – Trata-se de um dos locais mais convidativos da cidade, não só pela ambiência histórica e cultural que o envolve, mas também, pela arquitectura de identidade Arte Nova. Um alçado definido por um pórtico em mármore compõe a fachada principal do edifício onde as portas são um conjunto de envidraçados. O espaço interior é constituído por um salão de planta rectangular simples e relaciona-se para o jardim das traseiras por um grande envidraçado, constituído por portas de vaivém. Os elementos em madeira são marcados por linhas curvas e sinuosas. A decoração interior é claramente Arte Nova com bancos corridos, amplos espelhos lapidados, entre os quais se localizam apliques de duas lâmpadas. Tudo é decorado com materiais nobres como a madeira, o mármore, o cristal, o couro e os espelhos. As formas arredondadas, os medalhões, as figuras esculpidas, os marmoreados, são de motivos vegetalistas e simulacros de figuras humanas. Vale por si só uma visita.
Casa Vicent – É um dos raros estabelecimentos de influência Arte Nova com utilização do ferro fundido dourado na fachada O seu contorno é constituído por uma sucessão de grandes peças curvas, vegetalistas ou em concha, rematando ao centro, na parte superior, numa concha encimada por um elemento vegetal. Entre a concha e a bandeira da porta, mostra uma cartela com a legenda “VICENT”. O espaço interior mantém todo o mobiliário, vitrines, balcões e candeeiros onde o dourado é uma constante.
Edifício na Rua Galeria de Paris – Projecto de autoria dos arquitectos José Estevão, Eduardo Augusto, Parada Silva Leitão, do início do século, este prédio conserva todas as características da expressão Arte Nova. É constituído por três pisos sendo o rés-do-chão um estabelecimento comercial e os pisos superiores uma pensão. Apresenta na fachada uma alternância de volumes que a tornam ligeiramente desproporcional. A fachada apresenta um grande janelão circular sobre o portal de vidro e ferro, e é rematada em cima por uma cornija e balaustrada em granito. Tem particular interesse o tratamento e emolduramento dos vãos em granito. O interior, com pés-direitos bastante altos, utiliza ainda alguns elementos estruturais em ferro. De salientar ainda a influência do artista escultor belga Paul Henkar.
Imóveis na Rua do Passeio Alegre – Neste conjunto de imóveis importa realçar diferentes linhas de arquitectura que conferem a esta rua muita harmonia. Assim, podemos observar vários estilos de expressão revivalista romântica e de Arte Nova. De salientar as influências românticas transportadas pelos jardins que circundam os “chalets”. Na caracterização destes edifícios é notória a presença dos azulejos a revestir as fachadas, assim como as aberturas com molduras em granito. São ainda visíveis alguns elementos de suporte das coberturas ou alpendres das varandas com peças da “arquitectura do ferro”.
Ourivesaria Cunha – Projecto atribuído a Francisco de Oliveira Ferreira com o contributo da Companhia Aliança na construção da frente (em ferro fundido). A fachada principal orientada a norte, em frente à Rua 31 de Janeiro, apresenta uma “devanture” – ou frente em ferro fundido e lioz nacional- com aplicações em bronze dourado e latão polido. Nesta está incluída uma porta de acesso aos andares superiores do prédio, também emoldurada por elementos em lioz. A área da fachada correspondente à ourivesaria é formada por uma porta, com duas montras de recorte superior e inferior ondulado. Por cima da entrada da loja o entablamento é interrompido por ornamentos em espiral entre os quais se insere a escultura intitulada “Grupo de Amores”, da autoria de José de Oliveira Ferreira. O interior da ourivesaria tem dois salões separados por um arco abatido apoiado em duas colunas, sendo de realçar no primeiro salão as belas vitrines Arte Nova enceradas. No segundo salão, com uma escada em caracol de acesso à cave, encontra-se o mobiliário mais antigo pertencente à loja inicial (na Rua do Loureiro).