Ao embarcarmos na COP 28, vozes importantes do património cultural, das artes e do setor criativo uniram-se numa campanha para pedir à Convenção das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas que coloque a cultura no centro da ação climática.
Antes da COP 28 deste ano, que tem lugar no Dubai e teve início no dia 30 de novembro terminando a 12 de dezembro, mais de 1.000 organizações culturais, líderes e profissionais juntaram as suas vozes a um Apelo à Ação Global. Estas instituições apelam à Convenção das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC) para que adote uma inovadora “Decisão de Trabalho Conjunto sobre Cultura e Ação Climática” para garantir que soluções baseadas na cultura para as mudanças climáticas sejam reconhecidas e implementadas.
As políticas climáticas existentes revelaram-se inadequadas e deixaram o mundo com dificuldades para cumprir as metas do Acordo de Paris. As soluções lideradas pela cultura – inclusivas, baseadas em direitos, específicas do local, orientadas para a procura e centradas nas pessoas e na natureza – já são abundantes. No entanto, apesar do seu potencial, a cultura ainda não foi integrada na política e no planeamento climático.
Esta campanha global pede uma “Decisão de Trabalho Conjunta (JWD) sobre Cultura e Ação Climática”, um processo da ONU que desencadearia políticas e quadros que permitiriam à cultura reforçar a ação climática. Um Diálogo Ministerial de Alto Nível sobre Ação Climática Baseada na Cultura foi agendado para 8 de dezembro na COP 28, tendo em vista solicitar à ONU que adote o JWD na COP 29 do próximo ano.
A cultura tem o poder de ajudar as pessoas a imaginar e concretizar futuros com baixo teor de carbono, justos e resilientes às alterações climáticas. O património, incluindo o conhecimento tradicional, fortalece a resiliência, ajuda as comunidades a adaptarem-se aos impactos climáticos, protege os lugares e oferece soluções verdes, circulares e regenerativas. As artes falam aos corações e às mentes, desafiam as perspetivas dominantes e inspiram a ação através do diálogo, das imagens, da narração de histórias e da partilha de experiências. Os setores criativos – design, música, moda e cinema – moldam os nossos estilos de vida, gostos e padrões de consumo.
“A Europa já é um líder internacional tanto na ação climática como na ação cultural – e por isso também deveria ser líder na cultura e na ação climática baseada no património. Apelo aos estados membro da União Europeia para que apoiem uma decisão de Trabalho Conjunto e que a UNFCCC (United Nations Framework Convention for Climate Change) a adote na COP28”, afirmou Sneška Quaedvlieg-Mihailovic, Secretária Geral da Europa Nostra e Líder do Projeto Hub Europeu do Património.
O Hub Europeu do Património lidera a campanha na Europa. O próprio projeto do Apelo à Ação foi lançado e realizado durante a Cimeira do Património Cultural Europeu, que teve lugar em setembro de 2023 em Veneza.
Na sua participação na Cimeira do Património Cultural Europeu, Sua Alteza Real a Princesa Dana Firas, Presidente do ICOMOS Jordânia e do Petra National Trust, declarou: “Não estamos a conseguir manter viva a promessa dos 1,5°C (…) E muitos de nós, no campo do património, temos argumentado que falhamos porque existe uma lacuna gritante chamada cultura e património e política climática. Para permitir que o mundo volte ao caminho certo para cumprir as metas do Acordo de Paris, devemos compreender o contexto histórico e cultural das origens da crise climática e devemos abordar os problemas sociais, culturais e patrimoniais relacionados, de forma a criar condições propícias para uma ação climática transformadora.”
O Secretário-Geral das Nações Unidas, António Guterres, enviou uma carta de apoio à Cimeira onde reconheceu a necessidade urgente de aproveitar a cultura e o património na luta pelo Nosso planeta: “Podemos aprender através da relação dos Povos Indígenas com o planeta e com o seu conhecimento tradicional que nos pode ajudar a reduzir as emissões e a adaptarmo-nos a condições climáticas extremas. Podemos explorar qual é a contribuição da cultura para as mudanças climáticas. E podemos direcionar o poder da cultura, do património e das artes para inspirar mudanças sociais e políticas que possam ajudar a acelerar a ação climática.”
Mais de 250 organizações líderes de uma ampla variedade de setores apoiam esta campanha, incluindo parceiros Hub Europeu do Património, tais como: Eurocities, Europeana Foundation, ICLEI Europe, DigitGLAM KU Leuven, Centre Européen de Musique, Centro National de Cultura, Elliniki Etairia, Europa Nostra Heritage Hub for Central e Eastern Europe in Kraków (run by the the Society of Friends of Kraków History and Heritage), Hispania Nostra, ALIPH Foundation, Organization of World Heritage Cities, ESACH (European Students’ Association for Cultural Heritage), e a European Union Youth Orchestra.
A cultura é uma força poderosa que molda todas as nossas vidas, onde quer que estejamos no mundo. Aproveitar o conhecimento, a paixão e a criatividade dos setores culturais e criativos para a política climática possibilitaria uma ação climática transformadora – permitindo-lhe expandir-se, influenciar decisões importantes sobre emissões líquidas zero e adaptação, e garantir que o património seja salvaguardado para o futuro das próximas gerações.
O Apelo à Ação permanece aberto ao público. Se reconhece o extraordinário potencial da cultura para fortalecer a ação climática global, inscreva-se para apoiar e divulgar amplamente esta causa. Adira, como uma rede, organização ou individualmente. Adicione a sua voz e ajude esta campanha!