A memória histórica constitui um factor de identificação humana. Reconhecemos nessa memória o que nos distingue e o que nos aproxima. Identificamos a história e os seus acontecimentos mais marcantes – desde os conflitos às iniciativas comuns. E a identidade cultural define o que cada um é e o que nos diferencia uns dos outros. A cultura é uma encruzilhada onde se encontram o património material e imaterial e a criação artística. Esta encruzilhada leva-nos a uma cultura baseada numa tensão constante entre tradição e modernidade. E a história permite-nos desvendar de onde vimos e quais as vicissitudes que acompanham a definição dessas origens. A história faz-se do diálogo entre povos e culturas, desenvolve-se na relação entre o que é múltiplo e diverso. É fundamental um novo conceito de fronteira, não como lugar de divisão ou de separação, mas como ponto de encontro. As comunidades, as regiões, os povos e as nações muitas vezes conhecem-se e não se compreendem, mas precisam da memória histórica como meio de abertura e de enriquecimento mútuo. A cultura tem, assim, de funcionar como um factor de tolerância, de respeito e de criatividade. Na passagem dos cinquenta anos da Convenção Cultural Europeia, assinada no âmbito do Conselho da Europa, estamos cientes de que uma cultura centrada na pessoa humana, na democracia e nos direitos humanos afirma-se e consolida-se no respeito pelas diferenças herdadas, mas também na força das complementaridades entre várias culturas abertas. O conceito de património cultural alarga-se, enriquece-se e reforça-se. São as pedras mortas e as pedras vivas que se confrontam e se associam. E que é a herança que recebemos das gerações que nos antecederam, senão essa convergência fecunda entre o significado dos monumentos, dos edifícios e das obras de arte e a sua projecção no mundo da vida? A modernidade significa uma ligação aberta entre o que recebemos, com os costumes e as tradições, passando pelas comunidades culturais e pelo ambiente cultural, e por aquilo que criamos e construímos, inovando e acrescentando… Cada vez mais as identidades culturais se enriquecem através da capacidade das pessoas e das comunidades ligarem tradição e mudança, transmissão e inovação. Das paisagens à defesa do meio ambiente, da preservação do património ao incentivo à criação – estamos perante identidades culturais como realidades vivas, em permanente evolução. Eis porque as escolas, agindo como redes de acção, devem ser lugares de solidariedade activa em prol do património. Eis porque deve ser incentivada e aprofundada a geminação entre cidades, a mobilidade de professores, de estudantes, de intelectuais e artistas, de cientistas e de investigadores, a criação de enclaves de paz, a promoção de parcerias envolvendo diferentes países, para a promoção de um novo conceito de fronteira enquanto lugar de cooperação, de aproximação e de enriquecimento.
Guilherme d’Oliveira Martins