O folhetim de agosto de 2022 é como que um “gabinete de curiosidades” tão comum para os nossos antepassados setecentistas. É uma mostra de coisas que merecem porventura atenção, desde que tragam motivos de surpresa. O inspirador é Carlos Drummond de Andrade, como é fácil de perceber e com a adaptação devida. E lembramo-nos do poema estranhamente repetitivo, que não é mais do que uma descrição da vida quotidiana. Contudo, essa vida quotidiana está sempre pronta a trazer-nos algo que nos inquieta e nos surpreende ou desassossega. Há sempre pedras no meio do caminho. Daí o plural propositado que utilizamos no título. Em vez de uma enumeração sistemática de temas como aconteceu nos últimos folhetins, vamos vaguear propositadamente, como se caminhássemos ao lado do célebre guardador de rebanhos – entre episódios, pessoas, anedotas, provérbios, citações, livros perdidos, receitas imaginárias, viagens miríficas, coisas uteis e inúteis, palavras, fantasmas. Em suma, haverá de tudo um pouco, em tempos e circunstâncias diferentes. A título de exemplo, ponho hoje uma ilustração rara de Alain Saint-Ogan (1895-1974) dos anos vinte, como aperitivo. Irei, por isso, ilustrar as prosas com apontamentos antigos.
O gabinete de curiosidades terá, pois, diversas curiosidades. E cito, como é óbvio, a recordação de Carlos Drummond, para que não fique esquecida!
«No meio do
caminho tinha uma pedra
Tinha uma pedra no meio do caminho
Tinha uma pedra
No meio do caminho tinha uma pedra
Nunca me esquecerei desse acontecimento
Na vida de minhas retinas tão fatigadas
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
Tinha uma pedra
Tinha uma pedra no meio do caminho
No meio do caminho tinha uma pedra».
Agostinho de Morais (de regresso).