Uma Peça do Museu Nacional de Arte Antiga
Semana de 22 a 30 de Março de 2010
O Centro Nacional de Cultura (CNC) e o Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA) levam a efeito, desde 2006, uma iniciativa comum de divulgação das peças mais significativas do primeiro Museu português. Deste modo, queremos promover o melhor conhecimento do nosso património cultural, incentivando a visita aos nossos Museus, e em especial ao Museu Nacional de Arte Antiga.
Além da divulgação no portal www.e-cultura.pt e no sítio www.cnc.pt, promoveremos ao longo do ano outras iniciativas que serão divulgadas nos nossos programas trimestrais. A memória cultural constitui um factor fundamental para a melhor compreensão da nossa identidade, vista como realidade aberta, na encruzilhada entre a herança e a criação, entre a tradição e a inovação.
Agradecemos à Direcção do MNAA e à sua equipa a oportunidade que nos dá de melhor conhecermos um acervo tão rico e fundamental para a compreensão do que somos como povo e como cultura.
Custódia da Bemposta
c. 1750-1760
Prata dourada e pedras preciosas
97 x 33 cm
Proveniência: Paço da Bemposta
Inv. 1 Our
Esta emblemática obra da ourivesaria barroca é tradicionalmente conhecida como a Custódia da Bemposta. O Paço da Bemposta, também conhecido como Paço da Rainha, foi mandado construir por D. Catarina de Bragança, filha de D. João IV, para sua habitação, após o seu regresso a Portugal, por morte de seu marido, Carlos II de lnglaterra. D Catarina deixou o Paço da Bemposta a seu irmão D. Pedro II, o qual, em 1707, foi doado por D. João V, à Casa do Infantado (propriedade do 2º filho do rei de Portugal). Aí terá permanecido até à extinção da Casa do Infantado em 1834, tendo sido transferida para Queluz. Posteriormente a peça ficou à guarda da Infanta D. Isabel Maria (regente) na Quinta da Infanta, em Benfica, até à sua morte em 1786, sendo nesse mesmo ano levada para a Casa da Moeda e desta, após avaliação (12.000 escudos), entregue à Academia de Belas Artes, vindo a figurar nas colecções do Museu Nacional de Arte Antiga com o n.º 1 de inventário.
Não existe documentação que confirme quer o encomendador quer o autor desta custódia. D. Francisco de Bragança, irmão de D. João V, detentor de avultados bens como Senhor da Casa do Infantado, poderia, com alguma probabilidade, ter mandado executar esta magnifica obra de acordo com os cânones construtivos do barroco joanino. Outra hipótese aponta para D. Pedro III, já que a referência mais antiga à custódia se encontra no seu testamento datado de 1786. Numa das disposições contempla seu filho, futuro D. João VI, com a quinta de Queluz, recomendando o grande cuidado a ter com o culto divino Que se costuma dar a Deos na capela da Bemposta, à qual deixo a custodia preciosa que tenho….
A custódia tem sido tradicionalmente datada entre 1740 e 1750 e atribuída a João Frederico Ludovice, ourives-arquitecto de D. João V e autor do risco do convento de Mafra. Ludovice trabalhara como ourives em Roma e fora chamado a Portugal pelos jesuítas para o colégio de Santo Antão. Era pois o ourives com melhor preparação para realizar uma obra “ao romano”. Além disso, um desenho preparatório da custódia existente no Museu (inv. 473 Des), também proveniente da Bemposta, embora não assinado, tem-lhe sido atribuído, dado que evidencia, como noutros desenhos assinados pelo ourives, uma fidelidade quase servil aos protótipos romanos.
Mais recentemente Nuno Vassalo e Silva atribuiu a Adão Gotieb Pollet a autoria da peça e do desenho preparatório, com base na lapidação e em certos elementos decorativos das gemas, o que faria avançar a data de execução da custódia para o período de 1775-1785. Esta atribuição a Pollet, joalheiro-cravador de D. Maria I, mas não ourives, deverá ser ponderada dado que sendo a custódia uma obra de ourivesaria de cunho romano joanino, já estaria plenamente ultrapassada na década de 80.