Morreu Norberto Bobbio (1909-2004). Foi um dos grandes filósofos do século XX. Foi um combatente contra a indiferença e pelo culto da memória. Bobbio nasceu em Turim. Fez o liceu na capital do Piemonte, onde também frequentou a Faculdade de Direito, sendo discípulo de Luigi Einaudi. Gioele Solari conduzi-lo-á nos caminhos da filosofia jurídica. Em 1932 vai para a Alemanha e no ano seguinte defende tese em filosofia sobre “Husserl e a fenomenologia”. Em 1934 inicia a livre docência em filosofia do Direito e em 1935 coordena a disciplina na Universidade de Camerino. Em 15 de Maio é preso em Turim, com amigos do grupo “Justiça e Liberdade”, entre os quais de encontra Cesare Pavese. Defende os ideais da liberdade e prossegue uma intensa investigação científica. Sucede em Siena na cátedra a Felice Bataglia. Elabora a edição crítica da “Cidade do Sol” de Campanella. Vai para Pádua e adere em 1940 ao grupo clandestino Partido da Acção. É preso (1943-44). Desenvolve trabalho político intenso em Turim. Após a queda do fascismo (25.4.1945), dedica-se ao jornalismo político em “Giustizia e Libertá”, órgão do P. da Acção, dirigido por Franco Venturi. Nas eleições constituintes de 1946 candidata-se, mas não é eleito. Apresenta em Itália a obra maior de Karl Popper “Sociedade Aberta e os Seus Inimigos”. Participa nas actividades do Centro de Estudos Metodológicos, fundado pelo seu amigo L. Geymonat, com o objectivo de superar a distinção tradicional entre cultura científica e cultura humanística. Ensina em Turim a partir de 1948, dirigindo memoráveis cursos – desde a Teoria da Ciência Jurídica e da norma jurídica ao positivismo jurídico, passando pelos cursos sobre Kant e Locke. O diálogo entre a política e a cultura é para Bobbio fundamental e constitui pedra angular no seu pensamento. Em 1957 conhece Kelsen no Instituto Internacional de Filosofia Política. Em 1962 começa a leccionar ciência política. 1965 é a data da publicação das célebres colectâneas de ensaios “De Hobbes a Marx” e “Jusnaturalismo e Positivismo Jurídico”. Em 1968 mantém um difícil diálogo com o movimento estudantil. Em 1972 transfere-se para a nova Faculdade de Ciências Políticas de Turim, leccionando sobre a teoria das formas do Estado e a formação do Estado moderno. O federalismo europeu mobiliza-o, bem como o debate político sobre o socialismo liberal. No âmbito da Amnistia Internacional combate activamente a pena de morte (1981). Em 1984 foi nomeado pelo Presidente Sandro Pertini senador vitalício, e nesse ano publica a colectânea de ensaios “O Futuro da Democracia – Uma defesa das Regras de Jogo”. Ganha em 1989 o prémio internacional da Sociedade Europeia de Cultura, continuando uma fecunda produção literária: “A Idade dos Direitos” (1990), e “Direita e Esquerda” (1994). Foi um europeu militante. Bobbio é um exemplo para as causas da Paz e da dignidade da pessoa humana.
Guilherme d`Oliveira Martins