A Festa no Chiado continua plena de entusiasmo e de iniciativas, coincidindo no final da semana que agora começa com as Noites do Chiado – e com a especial solidariedade portuense da primeira Festa na Baixa do Porto. As exposições de Inês Carrelhas e de Sofia Arez representam a presença de jovens artistas – numa antiga tradição do CNC de muitas décadas (Lourdes de Castro e José Escada aqui estiveram na juventude)… Os monumentos vivos, os encontros à esquina, as portas abertas, o café literário… – a cultura vive-se como o ar que se respira. Helena Vaz da Silva ensinou-nos essa naturalidade. Na segunda edição de cinco obras, cinco autores começaremos por João Manuel Duque, com o ensaio “Dizer Deus na Pós-Modernidade” e continuaremos por Alexandre Melo com “Aventura no mundo da Arte”. Depois invocaremos Carlos de Oliveira, a propósito da reedição da sua obra, com Eduardo Prado Coelho e Manuel Gusmão. Seguem-se Manuela Fleming, com as interrogações da sua obra singularíssima “A dor sem nome – Pensar o sofrimento”, num testemunho de sentida reflexão e o debate sobre duas revistas de poesia – “Relâmpago” e “Inimigo Rumor”. Nos passeios e nos encontros teremos todo o espírito do Chiado e da sua circunstância – Fernando Pessoa e os seus percursos, o Grémio Literário, os conventos, o Carmo e a Trindade, a tradição liberal, a ligação ao Bairro Alto, as lojas qualificadas, os cabarés, a movida de Lisboa. Tudo isto com muita música, com jovens criadores, com animação da rua e do comércio e com as lojas abertas até à meia-noite nos dias 23 a 25. Há um programa cheio de surpresas e curiosidades!
A vida não pára. Celebrámos vinte e cinco anos do pontificado de João Paulo II, de quem Adam Michnik disse que num mundo em permanente mutação é bom termos um guardião do imutável – alguém que “é um conservador tomado pela liberdade e pelo sentido de justiça”.
A morte e a vida estão sempre juntas. O Professor António Ferrer Correia (1912-2003), Reitor honorário da Universidade de Coimbra e antigo Presidente da Fundação Gulbenkian faleceu. Professor e investigador muito prestigiado, destacou-se pela sua competência e rigor e pelo apego aos ideais democráticos. Como grande especialista de Direito Internacional Privado, teve um papel fundamental, ao lado de José de Azeredo Perdigão, na concretização do legado de Calouste Sarkis Gulbenkian e na criação da Fundação que este instituiu em Portugal. Como estudioso e pedagogo, deixou na Universidade uma aura de rigor e de afecto. Como benemérito, deu sempre uma especial atenção à educação dos mais jovens e à dignificação das escolas. Como cidadão, nunca hesitou em expressar e defender os ideais republicanos, mesmo quando esse facto lhe trouxe dissabores e contratempos. Como homem, foi sempre generoso e afabilíssimo, o que lhe granjeou simpatia e admiração de todos.
Guilherme d`Oliveira Martins