10 ANOS DA MORTE DE YEHUDI MENUHIN
Yehudi Menuhin, nasceu no dia 22 de Abril de 1916 em Nova Iorque e morreu a 12 de Março de 1999 em Berlim. Foi um do mais importantes violinistas e maestros do séc XX. Passaram 10 anos desde a sua morte e recuperamos o texto de Helena Vaz da Silva sobre Menuhin, quando este esteve em Portugal, no concerto inaugural da Expo’98.
A Yehudi Menuhin, cidadão do mundo, por Helena Vaz da Silva
“Each human being has the eternal duty of turning what is hard and brutal into a tender and subtle offering. What is crude into an object of refinement, what is ugly into a thing of beauty, confrontation into collaboration, ignorance into knowledge, hereby rediscovering the child’s dream of a creative reality incessantly renewed by death, the servant of life, and by life the servant of love” Y. Menuhin
Fotografia de Augustin Munoz
“Acredito que Yehudi Menuhin é uma estrela caída do céu. Estrela no mundo da música, estrela no mundo dos homens. Desde que, aos sete anos, se apresentou como violinista com a Orquestra Sinfónica de São Francisco, não parou de maravilhar sucessivas gerações com o seu génio musical fulgurante – de intérprete, de maestro e de pedagogo. Mas não só. A sua carreira de músico tem sido um dos lados da medalha de que o outro é o empenhamento ilimitado na transformação do mundo num lugar de harmonia.
A penetração e a visão dos seus escritos revelam um profeta do séc. XX; a força anímica e a humildade da atitude, um santo laico; a obstinação e a generosidade na acção, um guerrilheiro ou um cruzado.
Depois de ser longos anos admiradora da sua música – desde que o vi em Lisboa num inesquecível concerto no Tivoli em 1953, onde já tinha tocado em 1935, com 19 anos – tive a sorte de conhecê-lo em 1995 quando visitei uma escola de um bairro pobre de Bruxelas onde se desenvolve o seu projecto MUS-E. A revelação foi tal que não descansei enquanto não vi o MUS-E introduzido em Portugal – e neste momento, graças às boas mãos em que foi posto o projecto, o nosso país é considerado modelo na forma como desenvolveu o conceito de educação para a tolerância através da música e do movimento.
Depois, fui de admiração em admiração, ao ver a evidência com que Yehudi Menuhin – vinte vezes condecorado com as mais altas insígnias de todos os países do mundo, trinta vezes doutorado honoris causa por universidades de todos os continentes – prossegue a sua cruzada, sem cansaço, sem desesperança e com total desimportância da sua pessoa.
Acredito que seres assim são postos no mundo para o reorientar. Para serem nossos sinais e balizas. Só isso explica o unânime eco que ele desperta nas mais variadas categorias de pessoas. São seus amigos chefes de Estado e ciganos e o entusiasmo que suscita é o mesmo, junto dos seus confrades ou do povo anónimo, como me mostrou o que vou contar.
Um sábado, passeava eu ao longo dos canais de Amsterdam, a pensar na visita que fizera na véspera à tal escola MUS-E em St. Josse e vi de repente, pendurado à porta de uma cave que vendia velharias um retrato à pena que não podia ser se não ele. Corri, entrei e perguntei a medo se era… “É sim” – respondeu a dona, já de idade – “é o grande Menuhin desenhado por um artista holandês uma vez que ele por cá passou há muitos anos”. Disse que ia levar o quadro para lhe oferecer porque ia vê-lo daí a dias. A senhora não pôde conter a comoção. “Ah! Se eu pudesse não lhe levava nada. É o homem que mais admiro no mundo (…)” Helena Vaz da Silva, 5.5.98